O grande educador e pensador Edgar Morin, pseudónimo de Edgar Nahoum, nasceu em Paris a 8 de julho de 1921 e, felizmente, ainda vive. Destacou também como antropólogo, sociólogo e filósofo. É um judeu de origem sefardita. Foi pesquisador emérito do CNRS. Formado em Direito, História e Geografia, realizou assim mesmo estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. É autor de mais de trinta livros, entre os que destacam: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro.
Os sete saberes necessários para a educação do futuro - Edgar Morin
1.-Um conhecimento capaz de criticar o próprio conhecimento: As cegueiras do conhecimento são o erro e a ilusão. Cada pessoa está condicionada pelo seu próprio mundo emotivo, pelas suas percepções da realidade, pelo seu mundo cultural e por influências sociológicas. As teorias científicas não estão para sempre imunizadas contra o erro. Resulta difícil entender que tenhamos uma educação que visa transmitir conhecimentos e seja cega quanto ao que é o próprio conhecimento humano. Sem aprofundar sobre os seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão, e não se preocupe em fazer conhecer o que “é conhecer”. Temos, portanto, que introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão.
2.-Discernir as informações chave, tendo claros os princípios do conhecimento pertinente: Os estudantes têm de saber escolher os pontos chave dentro da abundância atual de informação. É preciso escolher o prioritário e analisar os contextos dos problemas e das informações. O que antigamente, utilizando uma bela metáfora, entendíamos como “saber tirar o grau da palha”. Existe um problema capital, sempre ignorado, que é o da necessidade de promover o conhecimento capaz de apreender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais ou locais. A supremacia do conhecimento, fragmentado de acordo com as disciplinas, impede frequentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade, e deve ser substituída por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade e seu conjunto. É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas essas informações em um contexto e um conjunto. É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo. O que pode fazer-se baseando-se sempre no método científico de pesquisa, nas relações causa-efeito e no uso nas aulas do método didático integral da globalização e interdisciplinar.
3.-Ensinar a condição humana: Reconhecer a nossa humanidade comum em que vivemos. E, ao mesmo tempo, a diversidade da nossa condição humana. A humanidade é uma e diversa. Compreender que o “humano” é sempre físico, biológico, psicológico, social e cultural, e essa unidade complexa da natureza humana é totalmente “desintegrada”, não entendida, porque foi artificialmente dividida ou desligada, na educação atual, pelas várias disciplinas. Tomando isto como base, devem levar-se os estudantes a compreender a unidade e a complexidade do ser humano. Utilizando a Didática interdisciplinar.
4.-Ensinar a identidade terrena: A revolução tecnológica permitiu voltar a unir o que antes sempre esteve disperso. A pátria comum é a Terra, por isso temos que lograr um sentimento de pertença à mesma, embora existam diferenças essenciais. É necessário ensinar aos jovens alunos a história da era planetária, iniciada com as navegações portuguesas, seguidas das castelhanas, francesas, inglesas e holandesas, que puseram em comunicação todos os continentes a partir do século XVI. Para o bem e para o mal, o mundo interligou-se. A problemática atual é planetária, porque todos os seres humanos têm problemas e um destino comum.
5.-Enfrentar as incertezas: O século XX derrubou a preditividade do futuro. Caíram impérios que pensavam perpetuar-se. A educação deve ir já unida à incerteza e às reações e ações imprevisíveis. Temos de ensinar aos estudantes a estratégia que leve a pensar o imprevisto, pensar a incerteza, intervir no futuro através do presente, com as informações obtidas no tempo e a tempo. É preciso aprender a navegar um oceano de incertezas. O futuro é aberto e incerto, mas temos dados para, pelo menos, tentar minorar as dificuldades.
6.-Ensinar a compreensão: Devemos melhorar a nossa compreensão dos demais, o respeito pelas ideias dos outros e os seus modelos de vida, sempre e quando não atentem contra a dignidade humana. Há que entender os outros códigos éticos, os ritos e costumes. Não marcar ninguém com uma etiqueta. Evitar o egoísmo e o etnocentrismo. Caraterística esta das ditaduras, do nazismo, do estalinismo e do fascismo. Compreender que a compreensão é meio e fim da comunicação humana mas, infelizmente, a educação para a compreensão não se faz em quase que nenhum lugar. Precisamos de compreensão mútua. Precisamos de estudar a incompreensão, o racismo, a xenofobia, o dogmatismo. Para isso temos que desenvolver em todas as aulas e estabelecimentos de ensino de todos os níveis a “Educação para a Paz e a Não Violência”. Como faziam Tagore e Gandhi.
7.-A ética do gênero humano: Ensinar a verdadeira democracia é um dever ético. Mas também necessita diversidade e antagonismos: a democracia não consiste numa ditadura da maioria. À que soem tender os governos que conseguem nas eleições maiorias absolutas. Os nossos estudantes têm de compreender a natureza “trinitária” do ser humano: indivíduo-sociedade-espécie. A ética indivíduo-espécie consiste no controlo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, por meio de uma democracia autêntica. A ética indivíduo-espécie implica, no presente século, a construção e efetivação da cidadania terrestre ou planetária.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Elaine Barbosa - Equipe Letra no Blog

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